| Por Fabio da silva nascimento e Cléverson Wasley Calixto |
Aos 70 anos, o taxista Auxílio Pacífico declara: “A pessoa vive melhor, tem a responsabilidade. Se ficar em casa, a pessoa fica sem fazer nada, aí chega a doença. E fazendo essa atividade, a mente está sempre funcionando. Se ela não funcionar, aí decai. A pessoa tem perda de memória, perda de força de vontade, se parar nessa idade só vem doença”. Diz ainda, não ser possível viver só com a aposentadoria: “Não conseguiria de jeito nenhum, mesmo trabalhando ainda tem os trancos e barrancos, então sem trabalhar seria muito pior”.
Em um passado recente, ter um idoso num ambiente de trabalho parecia algo totalmente inviável, porém esse cenário tem mudado muito nos últimos anos. As empresas têm voltado a requisitar esse público que oferece diversos benefícios tanto para a empresa quanto para a sociedade. Os dados do IBGE comprovam que pessoas acima dos 60 anos estão aptas a desempenhar suas funções com responsabilidade e qualidade. Nada mal para um público que deverá representar 25,5% da população brasileira até 2060.
O mercado de trabalho têm buscado não apenas aptidões, sejam elas físicas intelectuais ou sociais, mas experiência de vida, maturidade e seriedade no que se faz, afinal pessoas idosas atuaram em diferentes áreas durante anos, o que lhes confere muito aprendizado, nisso, a chamada “terceira idade” têm muitos exemplos a dar.
Betânia Lúcia, 71 anos, trabalha na organização de eventos e se sente muito valorizada em relação ao serviço prestado: “Os feedbacks dos clientes sempre são positivos, sou muito conhecida na empresa que trabalho e eles sempre fazem questão da minha participação na confecção desses momentos alegres na vida das pessoas. Faço meu trabalho com muita excelência e zelo”, afirma. Ela prefere se manter ativa mesmo estando aposentada, por sentir grande prazer em exercer suas funções.
Trabalhadores idosos como ela, comprovam que suas aptidões ainda continuam em alta e sentem bem em retornarem ao mercado de trabalho. Outra característica dos idosos é a dedicação, o comprometimento e a valorização da oportunidade. Esses valores são pontos fortes na chamada geração baby boomer, representada pelos nascidos entre 1945 e 1960.
O trabalho em família é algo muito presente em negócios onde um idoso desempenha alguma função, tornando-o algo mais leve e fácil de fazer para todos os envolvidos, como relata Claudia Simões, filha de Betânia Lúcia: “A familiaridade causa uma conexão única, onde o trabalho se integra ao bem-estar familiar, causando alta produtividade, enquanto esses laços de trabalho e afeto se fortalecem ainda mais”. Ela conta ainda que pretende seguir os passos da mãe: “A única coisa que peço é chegar na mesma idade dela com saúde e disposição para continuar trazendo muitas alegrias e felicidades na vida das pessoas que participam dos eventos festivos que organizamos com muito amor, carinho, respeito ao próximo, dedicação e eficiência”.
As dificuldades enfrentadas pelos profissionais idosos
“Eu já fiz muita coisa na minha vida, fui pedreiro, carpinteiro e trabalhava com obras em geral. Foi assim até meus 55 anos, quando não consegui mais realocação no mercado de trabalho e decidi que era hora de ser responsável pelo meu próprio sustento”, relata José Morono, 61 anos, vendedor de temperos em uma feira popular na cidade de Maceió, Alagoas. Uma pesquisa realizada pela Infojobs com 4.588 profissionais identificou as dificuldades para as pessoas maduras arrumarem trabalho. Para 61% dos participantes com mais de 40 anos, encontrar empresas que contratem idosos é o principal desafio. E o preconceito etário nos processos seletivos foi citado por 70,4% dos entrevistados.
Infelizmente, por conta do preconceito de grande parte das pessoas, inclusive mais jovens, os idosos usualmente precisam competir com outros trabalhadores de menos idade, mais qualificados, além de enfrentarem a estigmatização social, o que dificulta a sua permanência no mercado de trabalho. “Há preconceito que começa pela própria nação, por achar que idosos são incapazes de trabalhar ainda, sendo que a idade, contanto que se esteja em plena saúde e forma física, acaba por se tornar apenas um número”, Afirma Adriana Alves, de 60 anos, que também trabalha com eventos. As políticas vigentes ainda são insuficientes para incorporar a população mais idosa no processo produtivo.
Quando não é mais possível trabalhar
“Os que estão ativos tem uma maior qualidade de vida, pois se sentem úteis e com propósito, enquanto os que estão aposentados em sua maioria se sentem impotentes e desprezados pela sociedade. Trabalhamos para que o idoso compreenda que, mesmo não estando na ativa, pode ocupar seu tempo com outras atividades que, enquanto trabalhava, não podia fazer. Fazendo com que ele entenda as fases da vida e direcione sua energia para atividades de bem-estar”, afirma a psicóloga Jade Pereira.
Acostumado a trabalhar desde cedo, José Camilo da Silva Filho, de 75 anos, viu sua rotina de vida desaparecer após mais de 60 anos de trabalho, pois com a saúde começando a se debilitar, precisou interromper o batente. Ele relata que nunca mais foi o mesmo, pois se sente triste e sem direção logo após o fechamento de seu mercadinho onde trabalhou por muitos anos. Quando perguntado sobre o que mais sentia falta da época que trabalhava ele diz: “Das pessoas, pois não me alegrava só com o lucro que o constante movimento em meu estabelecimento trazia, mas daquele carinho que meus clientes tinham por mim sabe? Os sorrisos das pessoas que iam lá encantavam meu dia”.
Procurando manter a mente ocupada de alguma forma, o mesmo plantou alguns vegetais em seu novo quintal: “É uma grande alegria, me faz lembrar dos meus tempos de menino, ao qual comecei a trabalhar muito cedo. Sempre gostei disso, essa coisa de produzir sua própria comida é gratificante e fazendo isso novamente me ajuda muito a passar por esse momento de mudança e adaptação nessa nova rotina e de não estar parado”.
Os benefícios alcançados pelo trabalhador idoso
O trabalho é sem dúvida algo muito importante na vida de alguém da melhor idade, melhorando o ânimo, vigor e principalmente a manutenção da saúde mental dessa parte da população. Segundo a psicóloga Cris De Freitas, manter as atividades funcionais nessa fase da vida ajuda na prevenção de doenças degenerativas, como o Alzheimer: “Todo e qualquer estímulo à motivação e atividade da pessoa idosa vale muito. O trabalho traz possibilidades, desde que vistas de forma saudável. Para que mente e corpo estejam ativos, estimulamos o seu melhor. Garantia de saúde integral é o que desejo que tenhamos por meio do trabalho executado na terceira idade”.
Ela afirma ainda que existem algumas diferenças entre quem trabalha ou não nessa fase da vida: “Pacientes que trabalham demonstram dinamismos, energia. A saúde das pessoas na terceira idade está vinculada à melhoria na qualidade de vida. Eles parecem que podem aproveitá-la da melhor forma possível com bem-estar físico e mental. É muito relativa a diferença entre pacientes ativos no mercado e dos que não estão. Muitos continuam entendendo como aproveitar qualitativamente a rotina e demonstram ser ativos, dinâmicos e felizes por cada escolha, colhendo legados e cuidando da saúde de uma forma integral”. Ela finaliza dando sua visão sobre a importância do trabalho psicossocial na vida dessas pessoas e o considera como um meio de maior promoção à saúde e estímulo ao aproveitamento do tempo. A psicoterapia e outras atividades afins que ela desenvolve oferecem grandes contribuições para a vida das pessoas idosas, estimula autoconhecimento e técnicas que possam ajudá-los a identificar suas emoções e padrões de pensamentos, de forma à viver com mais qualidade o período desafiador.
Os benefícios que esses trabalhadores recebem estão garantidos no estatuto do idoso. O documento protege a população da terceira idade e garante direitos a uma vida digna. Entre eles: Desconto de 50% em atividades culturais, esportivas e de lazer; programas educativos sobre envelhecimento nos meios de comunicação; penalidades para quem mostrar imagens que desrespeitem as pessoas mais
velhas; sanções a quem abandona idosos sem assistência, entre outros.
